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Embalar

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Não quero deixar de te embalar. Peço baixinho ao meu Deus que não te tire do meu colo.E como te quero, sem uma discrição clara, porque não consigo juntar todos os pedacinhos que tens dentro de mim. Sou mais tu que eu aqui dentro. São tantos e incontáveis, como um grão de areia no meu areal. Não quero deixar de te embalar. Em ti levas todas as minhas partes, parte do meu coração, parte do meu sorriso , parte da minha felicidade. Em ti , e só em ti, levas e trazes. Trazes as incertezas , as culpas, as batalhas. Mas não vou deixar de te embalar. Por mais que cresças, por mais que a vida me obrigue a deixar-te ir... Não quero deixar de te embalar. Terás sempre a tua mãe em todas as voltas que a vida dê. Nisso quero que tenhas a certeza.

alma de mar ( participação)

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Respiro te neste tão breve e luminoso nascer, as tuas marés levam-me as dores de alma que coleciono. Busco te nas infindáveis tristezas, frágeis essências que possuo. Incolor calmaria que me embala, o teu chilriar que adormece. Vivo afogada nos meus pesadelos . Golpes sangrentos que só o suor do teu sal me cura. Tento te pertencer mas não tenho colo nas tuas ondas. Mais mães deram te seus filhos , homens cuja bravura era tão vasta como todas as tuas negras rochas. Mais duros seres fluíram contigo nas salgadas lágrimas porque assim o destinaste. Tu és karma , morte e paz. Tu és marés que tu leva e trás. ( Participação chiado)

O tédio

Nem sei o porquê de ter este nome, Salvador, como se um nome nos definisse hoje em dia. Somos números, cada vez mais. Centenas passam por mim como massas de carne sincronizadas. Transportadas por caixas de metal de um lado para o outro.  Com os meus fones nos ouvidos a ouvir “ november Rain”, as massas entram e saem no ritmo. Acabo por sair também, com os minutos contados e as solas a fazer o “ TIC TAC” até me sentar em frente ao monitor. Os meus tímpanos continuam a vibrar ,”I’m spending my time…”. Durante 9 horas mecanizadas estou  fechado num bloco de cimento. Chega o momento de ir. O vazio é meu companheiro, nesta jornada até o sol nascer, no eterno processo dos Deuses. Ao voltar, o sono apoderou- se de mim e pela primeira vez sonhei. Alguém levava-me pela mão, via os seus cabelos a ondular como as ondas num dia de verão. Tinham reflexos dourados como as bijuterias da minha avó. E corríamos, como se fugíssemos de algo . Passamos salas vazias com cantos escuros, de azulejos part

corrimão

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E lá vou eu a meio do corrimão da vida. Tenho a tendência de olhar para trás  mas o tempo sempre a buzinar diz -não é por aí! Já foi caminho que andaste, de que te vale voltar para trás?  Olho para o relógio, os ponteiros mostram- me memórias que ficaram. E por vezes a saudade magoa.  Este corrimão só tem um sentido. Talvez não queira saber o que tem mais à frente? O agora é mais seguro neste corrimão, onde inevitavelmente me agarro. Tenho-o aqui mesmo, agora, na minha mão. Aquelas memórias não mais estarão nos meus dedos. Tenho que seguir viagem. Se não der um passo não terei caminho mais à frente, e depois que passado terei para recordar ? É melhor seguir o tempo e viver este corrimão. Ele me ampara nos tropeços dos caminhos desnivelados. A este corrimão posso dar um nome, o que escolho para ele é, amor. 

Escolhi a Liberdade

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Escolhi a palavra Liberdade porque hoje, esta palavra não faz mais sentido . Dentre tantas palavras que poderia escolher e que tanto significam para mim, hoje, nenhuma me toca tanto quanto esta, a tal da Liberdade. O céu é tão vasto e aqueles que voam nele, fluíem sem qualquer oposição. A terra é tão vasta e nós que a percorremos parecemos arranjar todos e mais alguns motivos para lutar entre nós por um milímetro apenas. Isto faz-me pensar como estamos presos .  E continuamos como se as correntes fossem algo natural. Quem ordenou que temos que viver assim? De onde surgiu estes parâmetros?  Ignorância? Talvez. Ou será mesmo o facto de sermos humanos? Uma espécie narcisista que molda tudo por onde passa, molda a natureza à sua imagem enquanto todas as outras espécies se moldam à natureza. Mas até faz sentido se pensarmos nos mitos que Deus nos moldou à sua própria imagem. Pensamos ser Deuses. Contudo não temos a Liberdade que ele tem.  Temos que seguir regras, temos pensar com a cabeça d

Porque tenho direito

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Hoje acordei com os cabelos em pé. Olhei me ao espelho e vi um monstro , mas tenho direito. Hoje vesti o que me apareceu primeiro , porque tenho direito. Podiam até ser umas calças largueironas com umas pintas de lixívia , que interessa?! Hoje também tenho direito. Direito a vestir a camisola mais desbotada , de um branco quase cinza , exatamente da cor da minha alma, porque hoje tenho direito . Tenho direito a não por rímel ,nem base, nem bâton, nem raios de makeup, porque tenho direito, direito a ter olheiras, a ter borbulhas e até a cara de cu . Tenho direito de um dia , por mais manhoso e deprimido que seja , a ser eu mesma. Porque hoje acordei assim , e tenho direito a ser isto , tenho direito de me achar feia e mesmo assim não me enfeitar. Tenho direito de mandar esta sociedade à merdinha baixinho, porque não sou pessoa de desrespeitar ou ferir os sentimentos de ninguém e contudo os meus pensamentos gritam vão ao caralhinho bem alto cá dentro. Hoje os meus cabelos em

ela continuava

As folhas levitavam no céu , naquela segunda que parecia que ia ser dramática. O cinzento acompanhava a correria no asfalto , as rodas patinavam na água cintilante da rua, mas ela continuava a caminhar tranquila no passeio. Tudo o resto parecia frações de imagens , píxeis deslocados , emaranhados no tempo , que parecia não responder ao seu pestanejar. Ela continuava , olhava a dança do folhear, que as árvores largavam cantando ao vento . Trazia o cabelo amarrado a um laço negro , que brilhava na luz cinza daquela segunda. Carinhosamente andava , perante um cenário de outono cerrado , em que praticamente ninguém queria ver. Só mesmo ela para reparar. A água pintava os vidros , pinturas de um realismo chocante , só mesmo ela para ver que as folhas iam acompanhando os seus passos e o vento ia sorrindo para ela. O frio abraçava a forte , porém ela continuava mesmo que mais ninguém quisesse ver . Tinha um destino que sonhava pular , tinha uma rota que desejava alterar . Faltava lhe a corage